Vários clássicos passam por
nossas mãos sem que tenhamos, de fato, vontade de lê-los. Para mim, Admirável
mundo novo sempre foi um deles; um desses livros que não chamavam muita atenção
e do qual eu não tinha nenhuma expectativa. E eis que me deparo com uma história
incrível, com um texto belíssimo e com alguns elementos que, na década de 30, pareciam distantes, mas para nós, estão cada vez mais próximos.
Admirável mundo novo é a história
da Civilização moderna: crianças criadas em bocais, estruturação familiar
desconhecida. “cada um pertence a todos”, e palavras como monogamia, mãe e pai
trazem asco e horror. A sociedade feliz é aonde a sociedade moderna se firma.
Castas, bebês dominados com idéias pré-concebidas, centenas de gêmeos idênticos
que trabalham, trabalham, e, nas horas vagas, tomam “soma”, uma droga que os
deixa fora de si e longe dos sofrimentos.

Nesse pano de fundo, conhecemos muitos personagens, até chegarmos na trama principal. Como será que um índio, que tem uma mãe e é leitor de Shakespeare, iria se sair no meio dessa sociedade alienada, cheia de gêmeos idênticos e sem famílias? A partir daí, um texto fluído narra a trajetória desse “Selvagem”, John. Ele é o típico homem das tradições, da religião e do amor.
Huxley surpreende por ter, em
sua obra, uma linguagem rápida. Já no início do livro, ele intriga o leitor com
cenas interligadas, intercalando-as de uma maneira que eu nunca tinha visto em
um livro. A história, em si, tem um tema fraco; o modo, porém, como ele faz a tradução de uma
sociedade projetada para 600 anos à frente de seu tempo, além de certeira, ser uma
crítica ao andamento da sociedade rumo ao vazio - de sentimentos, de motivos e,
principalmente, de pensamentos – é genial.
O que vemos hoje é uma sociedade
alheia a tudo (um exemplo disso são jovens que preferem baladas, as orgias coletivas
e bebedeiras), e, traduzindo essa sociedade de Huxley para a nossa realidade,
poderemos perceber que muito do “soma” são as nossas drogas, muito do “cada um
pertence a todos” se reflete nessas baladas e que a coletividade está
preguiçosa e não quer mais pensar, pois a internet deixou tudo mais fácil e rápido.
É um livro ótimo para refletir
sobre atitudes coletivas, sobre a sociedade vazia e sobre como alguém diferente
disso tudo pode viver nessa sociedade. Identifiquei-me demais com o Selvagem em
algumas passagens. Vale a pena.
4 estrelas
P.S: Há uma adaptação para o
cinema desse livro, com o mesmo título: Admirável mundo novo. Foi feito em
1998. Fiquei curiosa para assistir, mas morro de medo de me decepcionar, igual Fahrenheit 541 (filme mais parado que nem sei)
P.S 2: O único defeito da Globo
de bolso, além dos errinhos básicos, é aquele maldito suplemento de leitura e o
prefácio que entrega a história logo de cara. Deveriam mover aquele prefácio
maldito e transformá-lo em posfácio. Fora isso, recomendo.